Pesquisa da UFV premiada pelo Ministério da Saúde propõe fórmula simples para reduzir morte em pacientes renais

19 de abril de 2015


Um cálculo simples, que segue um protocolo já estabelecido pelo Ministério da Saúde e que depende basicamente de uma fórmula que considera idade, sexo e taxa de creatinina no sangue do paciente poderia evitar milhões de reais em custos com pacientes renais crônicos no Brasil. Mas isso não acontece, sobretudo nos PSFs, considerados a porta de entrada para a saúde pública no Brasil. As consequências não são apenas para os custos elevados da saúde pública no país. O cálculo da taxa de filtração glomerular estimada no sangue poderia reduzir os índices de mortes e melhoraria a qualidade de vida dos pacientes, se realizado de forma precoce.

A conclusão é de uma dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição da Universidade Federal de Viçosa e premiada pelo Ministério da Saúde. A pesquisadora Luciana Saraiva da Silva constatou em seu estudo que aproximadamente 38% dos pacientes hipertensos acompanhados pelas Estratégias de Saúde da Família (ESF), política prioritária da Atenção Primária à Saúde sofrem de doença renal crônica oculta, ou seja, sequer sabem que têm a doença. Pelo menos 15% já estavam em estágio avançado da doença e continuavam sem saber disso. “A maioria só descobre quando já precisa da terapia de substituição renal, como a hemodiálise, e isso poderia ser retardado com o diagnóstico precoce”, comenta a pesquisadora.  Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, 10 milhões de pessoas possuem algum grau de alteração renal. Mais de 50 milhões correm o risco de desenvolver a doença por serem idosos, hipertensos ou diabéticos, que fazem parte do grupo de alto risco. A pesquisa foi realizada no município de Porto Firme-MG, mas acredita-se que os resultados sejam os mesmos em outras cidades.

Os profissionais de saúde já sabem que pacientes com hipertensão arterial têm mais tendência a desenvolverem doença renal crônica. Se forem idosos, a incidência pode aumentar ainda mais. O problema é que a doença é silenciosa e só se manifesta com sintomas quando está em estágio avançado. A pesquisadora explica que o exame para diagnosticar a doença é muito simples. Basta aplicar uma fórmula com dados do paciente para detectar o problema. “Em geral o exame solicitado é a creatinina. De forma isolada, ela é insuficiente para o diagnóstico precoce, mas é fundamental para fórmula que considera outros dados, como a idade”, diz Luciana.  Ela explica ainda que a aplicação da fórmula poderia ser feita pelos laboratórios que têm os dados do paciente, o que facilitaria ainda mais o trabalho dos médicos, permitiria o diagnóstico precoce e o encaminhamento do paciente para tratamento nefrológico.

“Quanto antes o paciente for encaminhado para terapias que retardem a progressão da doença, maior a qualidade de vida e menores os gastos com saúde pública no Brasil. Nosso trabalho mostra que a hipertensão é um sinal de alerta que deveria ser olhado com mais atenção nas ESFs que são a porta de entrada para os serviços de saúde”, diz a orientadora da dissertação, professora Rosângela Minardi Mitre Cotta.

O trabalho das pesquisadoras recebeu Menção Honrosa do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS no final de 2014.  A premiação tem como objetivo reconhecer pesquisadores que desenvolvem projetos voltados para a área de Ciência e Tecnologia em Saúde com potencial incorporação pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de estimular a produção científica direcionada às necessidades de saúde da população.

(Léa Medeiros)