Tecnologia desenvolvida por ex-aluno da UFV é vendida para empresa suíça de medicamentos

21 de agosto de 2015


Um exemplo de empreendedorismo que deu certo e cuja raiz está na UFV veio com a notícia, divulgada em agosto, do ex-aluno de graduação em Ciência e Tecnologia de Laticínios e mestrado em Microbiologia Agrícola Leonardo Maestri Teixeira. Ele está comemorando a venda da empresa GeneWEAVE, da qual é um dos sócios, pelo laboratório Roche por R$ 1,5 bilhão. Criada durante doutorado realizado no Departamento de Microbiologia da Universidade de Cornell (Estados Unidos), a empresa desenvolveu uma tecnologia oferecida em um kit rápido de diagnóstico bacteriano e de susceptibilidade antimicrobiana para ser usado em hospitais.

Segundo Leonardo, a história começou em seu segundo ano de doutorado, em 2007, quando ele e o colega Diego Rey decidiram que queriam montar uma empresa. Sem saber de que ela seria, resolveram cursar uma disciplina de empreendedorismo para engenheiros e cientistas. Nessa disciplina, era preciso trabalhar um plano de negócios conceitual em cima de uma ideia. Eles escolheram buscar uma solução para tuberculose, mais especificamente para a erradicação dela, focando no diagnóstico. Foi daí que surgiu o conceito da tecnologia, posteriormente patenteada e aprovada em um projeto para o desenvolvimento da prova de conceito da ideia que tiveram.

Leonardo conta que, com os recursos captados de projetos e de premiações em competições de planos de negócios, eles conseguiram ter um pós-doc tempo integral e um mestre, Thiago Santos também ex-aluno da UFV, “um pesquisador nato”, que os ajudou muito. Com o crescimento das atividades, foi preciso contratar uma pessoa, Jason Springs, da área de negócios, que, devido ao seu empenho e dedicação, acabou virando sócio do empreendimento. Para conseguirem capital semente, os três resolveram mudar o foco do que vinham fazendo. Ao invés do diagnóstico da tuberculose, passaram a trabalhar um kit para diagnóstico de infecção hospitalar, já que este era um problema dos Estados Unidos, o que facilitaria a captação de recursos.

Desde 2014, a GeneWEAVE tem equipamentos em teste em alguns hospitais norte-americanos, e começou a apresentar seus resultados em feiras setoriais com o objetivo de divulgar o produto e a empresa para uma possível venda, que ocorreu no dia 13 de agosto.

Orgulho
Para Leonardo, a compra da GeneWEAVE pela Roche traz um “grande orgulho, por saber que um sonho, que iniciaram em 2007, alcançou este patamar. Sem palavras para descrever”. Entretanto, ele lembra que a aquisição não é o fim, já que teve um aporte inicial de apenas 40% do valor, ficando o restante dependendo dos resultados e metas acertadas. “Ou seja, apenas começou”, afirma Leonardo. Ele diz que mais do que a venda, o grande objetivo dos sócios é ver o produto em todos os hospitais, salvando milhares de vidas por ano, já que esta foi a proposta inicial. “Sem falsa modéstia, estamos muito felizes e orgulhosos com a conquista de mais esta etapa, já que agora toda a equipe da GeneWEAVE poderá focar no objetivo final, e não viver a realidade de toda startup como a nossa, que, no dia seguinte após captar recurso, já começa a se preocupar com o novo investimento que será necessário para a sua sobrevivência. Sem contar com o know-how da Roche, que se torna imediatamente acessível para a GeneWEAVE”.

Leonardo ressalta que não ficou bilionário, como alguns podem pensar. E explica: “sofri uma grande diluição durante os investimentos, o que é normal em uma empresa que recebe recursos de capital de risco. Esses investidores ficam com a maior parte do retorno da venda. Isto é mais que justo, já que o risco de capital é todo deles”. Segundo ele, empresas de base tecnológica normalmente têm o objetivo de serem vendidas ou de fazerem uma oferta pública de ações (IPO). Por isso, a venda não foi uma surpresa. Entretanto, o valor e a data sim. “Por estar no Brasil, e por questões de sigilo, só fiquei sabendo depois de finalizada. Meus sócios ficaram felizes, mas estavam exaustos quando o negócio realmente foi finalizado, pois a negociação foi bastante longa e estressante”.

Após doutorado
Leonardo Maestri Teixeira terminou seu doutorado em Cornell em 2009 e, desde 2012, é diretor-presidente do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), que funciona em Sergipe e é considerado uma referência nas áreas de atuação (Biotecnologia Industrial, Engenharia, Saúde e Meio Ambiente) com mais de 60 pesquisadores doutores, muitos com bolsa de produtividade em pesquisa. O ex-aluno da UFV conta que o principal associado do Instituto, o Grupo Tiradentes, é reconhecido por sua exigência e que sempre busca soluções inovadoras nas suas iniciativas.

“Tenho certeza, que minha seleção e permanência na presidência do Instituto, nestes três anos, só foram possíveis graças às conquistas que vêm sendo obtidas com toda a equipe do Instituto. Reforço este ponto, pois um grande aprendizado que tive, tanto nos projetos interdisciplinares em que participei, quanto na experiência com a GeneWEAVE, é que, sem uma equipe, seu fator de multiplicação e de obtenção de resultados serão sempre determinados pelos seus pontos fracos. Além disso, outro resultado que poderá ser revertido para o Brasil serão todas as vidas salvas quando a Roche iniciar a comercialização da tecnologia da GeneWEAVE no país”. 

(Adriana Passos)