Pesquisadores da UFV buscam soluções para aumentar a produtividade agrícola de Omã, no Oriente Médio

1 de julho de 2014


por Elaine Nascimento

Escolhida pela empresa Vale para propor soluções ao controle de doenças nas plantações de manga e limão no Sultanato de Omã, a UFV vem desenvolvendo pesquisas no país árabe desde 2011. A Cooperação Vale/UFV/Omã é uma parceria entre a UFV e a Sultan Qaboos University (SQU), e conta com investimentos de cerca de R$ 8,5 milhões feitos pela Vale, por meio do Instituto Tecnológico Vale (ITV).

A economia omani é baseada na produção e exportação de petróleo. Mas temendo os efeitos da diminuição das reservas, o governo de Omã, na figura do Sultão Qaboos bin Said, tem buscado diversificar a economia do país. Dentro dessa política, a Vale, que possui uma unidade pelotizadora de minério em Omã, recorreu à UFV visando ao desenvolvimento da agricultura no Sultanato.

A UFV está atuando em duas frentes de trabalho, uma concentrada nos estudos sobre manga e outra dedicada às pesquisas sobre limão, que correspondem respectivamente aos projetos: “Seca da mangueira causada por Ceratocystis fimbriata sl em Omã” e “Etiologia, tolerância e manejo de doenças de limão galego (Citrus aurantifolia) em Omã”. Cada um dos projetos é composto por subprojetos, envolvendo vários professores, pós-graduandos e graduandos de diversos departamentos da UFV, da SQU e da University of Iowa, nos Estados Unidos. Todas as pesquisas têm o objetivo comum de encontrar a melhor alternativa para o controle de doenças nas duas culturas.

As plantações de manga do país sofrem com o ataque do fungo C. fimbriata, que provoca a seca da mangueira. O estudo envolve análise de amostras de plantas infectadas do Brasil, Omã e Paquistão, visando identificar a variabilidade genética do fungo e a origem da doença no Oriente Médio, tendo em vista que o patógeno é nativo do Brasil. Esse estudo vai embasar a seleção de variedades de manga para plantio. Também está sendo estudado o processo infeccioso do fungo e as respostas fisiológicas da planta, bem como a relação da doença com o ambiente. A importância de inóculo do fungo presente no solo e o papel de besouros na disseminação da doença também estão sendo pesquisados.

Já a produção de limão em Omã é gravemente afetada pela vassoura de bruxa (witches’ broom disease of lime, WBDL), uma doença causada por fitoplasma. Atualmente, estima-se que 98% das plantas de limão cultivadas no país estão infectadas com WBDL. O pós-doutor em Entomologia, Renan Batista Queiroz, passou 11 meses do seu doutorado em Omã, fazendo a análise molecular de insetos coletados em campo e desenvolvendo experimentos para confirmar quais insetos são realmente capazes de transmitir o fitoplasma. Ele acompanhou a flutuação populacional dos possíveis vetores de WBDL em uma área no interior do país, na região de Dakhliyah, e em três áreas na região de Al-Batinah, situada próxima do mar, onde a agricultura é mais frequente.

O pesquisador  descreve que “o país é constituído, principalmente, de montanhas e desertos. E a produção agrícola ocorre, principalmente, em pequenas fazendas com cerca de cinco hectares, dedicadas à subsistência. Os solos são salinizados. Todas as áreas são irrigadas e a maior parte da água é obtida através do sistema de falaj, em que um canal vertical é escavado a partir da superfície para alcançar a água em rochas porosas. Como o país não apresenta condições favoráveis à agricultura, grande parte dos produtos agrícolas é importada”.

Benefícios

Além da coleta de dados, pesquisadores brasileiros têm realizado visitas técnicas a Omã. No mês de junho, os professores da UFV, Dalmo Lopes de Siqueira e Fabrício de Ávila Rodrigues, estiveram no país árabe, onde ofereceram um treinamento aos produtores omanis, sobre práticas de manejo nas culturas de citros e manga.

A UFV também tem recebido visitantes. Recentemente, o assistente de laboratório da SQU, Issa Hashil Said Al-Mahmooli, esteve no Brasil para treinamento nos Laboratórios de Virologia e Patologia Florestal. A Cooperação ainda prevê a transferência de tecnologia mediante a vinda de agricultores omanis para aprender técnicas de produção de mudas de qualidade.

O professor do Departamento de Fitopatologia, Acelino Couto Alfenas, é coordenador geral da Cooperação na UFV. Ele afirma que os resultados da parceria obtidos até agora são promissores e os ganhos são para os dois países, Brasil e Omã, e para a UFV, sobretudo, no que diz respeito à geração e transferência de tecnologia e à formação de recursos humanos.

Além do coordenador, os professores Claudine Márcia de Carvalho, Dalmo Lopes de Siqueira, Fabrício de Ávila Rodrigues, Luiz Antonio Maffia, Marcelo Coutinho Picanço e Simon Luke Elliot integram a equipe.  Ao todo, estão envolvidos cerca de 40 pesquisadores da UFV, entre docentes,  estudantes  e pós-doutores, dos departamentos de Entomologia, Fitopatologia, Fitotecnia e Solos.

De acordo com o coordenador, os laboratórios participantes foram equipados com infraestrutura de ponta e a UFV possui hoje uma das maiores coleções de variedades de manga do Brasil, no Banco Ativo de Germoplasma (BAG), situado em Visconde do Rio Branco. Segundo o professor Acelino, “o estabelecimento dessa coleção é uma das metas do projeto fundamental para o programa de melhoramento visando à obtenção de variedades resistentes, sendo um dos métodos mais promissores para o controle da doença”.

A Cooperação Vale/UFV/Omã vai até maio de 2015. O coordenador acredita que o projeto ainda terá desdobramentos: “Atualmente, os estudos se concentram na busca de métodos de controle das duas doenças. Mas por se tratar de uma região desértica, em que a água é com certeza o principal fator limitante para o desenvolvimento da agricultura, há a necessidade de se encontrar variedades resistentes à salinização do solo também”.