Pesquisa pode ajudar a responder sobre savanização da Amazônia

27 de abril de 2018


Há pelo menos 20 anos a ciência discute se as mudanças climáticas irão transformar a Amazônia em um imenso cerrado nas próximas décadas. A tese da savanização ganha ainda mais força à medida que a região de fronteira entre os dois biomas vai se transformando. Mas qual é, de fato, o limite entre a floresta e o cerrado? A resposta é fundamental para saber como era e o que está mudando numa região cobiçada como uma nova fronteira agrícola. Uma pesquisa do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV conseguiu simular esta fronteira e os resultados servirão de base para dar respostas mais claras sobre o futuro da floresta mais importante do mundo.

O trabalho publicado no periódico Biogeosciences é fruto da dissertação de mestrado da pesquisadora Emily Ane Dionizio. Os resultados representam um salto no entendimento da fronteira entre dois biomas importantíssimos para o clima planetário e para a agricultura brasileira.

Para realizar estudos sobre mudanças climáticas e meio ambiente os pesquisadores fazem simulações matemáticas que levam em consideração milhões de dados muito complexos ao mesmo tempo. A técnica é chamada de modelagem e é capaz de sintetizar o conhecimento científico acumulado por diferentes disciplinas para fazer previsões de como a vegetação responde às mudanças no clima. Emily Dionízio explica que em todo o mundo há muitos modelos matemáticos que prevêem a savanização da Amazônia, no entanto, nenhum deles foi capaz de acertar a localização da atual fronteira entre os biomas para afirmar ou não a validade desta hipótese.

Para o orientador da pesquisa, Marcos Heil Costa, o trabalho é inédito e de grande contribuição por ser o único a considerar três fatores ao mesmo tempo: variabilidade climática interanual, ocorrência de incêndios e a limitação do elemento fósforo no solo. “Nós testamos várias possibilidades, mas só quando consideramos a relação entre estes três fatores foi possível delimitar com precisão a fronteira e mostrar a redução da biomassa ao longo dos limites da transição”, esclarece Emily.

Segundo os autores, até agora não havia um modelo que combinasse os três principais fatores para ocorrência de savanas tropicais no Brasil. “Alguns modelos apresentam erros nas estimativas atuais das áreas de transição de floresta e cerrado, o que pode comprometer os resultados quando utilizados para avaliar a hipótese de savanização sob cenários de climas futuros, explica a autora do trabalho. Ainda para Emily, a disponibilidade de fósforo é fundamental para representação da fronteira, uma vez que ela está intimamente associada à determinação do um tipo de vegetação predominante, que em geral é mais arbustivo em áreas com maior disponibilidade do nutriente e mais gramíneo em áreas de maior escassez.

Os autores também esclarecem que o trabalho não considera a interferência humana na definição de fronteira ao longo do tempo. “É um passo importante para o entendimento do que pode acontecer no futuro”, afirma o orientador.

A pesquisa é de grande importância para a área acadêmica porque mostra a necessidade de usar elementos biofísicos para simulação confiável da transição entre estes dois biomas. “Esperamos que os resultados contribuam para a construção de modelos que representem com precisão a vegetação de transição, melhorando o entendimento sobre a savanização da Amazônia sob cenários de mudanças climáticas e alerte para a necessidade da inclusão da variabilidade espacial de parâmetros ecofisiológicos para estas áreas”, disse Emily.

Léa Medeiros

Divulgação Institucional

O trabalho de Emily define fronteira entre biomas usando parâmetros ecofisiológicos

O trabalho de Emily define fronteira entre biomas usando parâmetros ecofisiológicos