Pesquisa genética propõe intervenções para conservação de espécies de peixes de água doce

20 de maio de 2014


por Elaine Nascimento

Uma equipe de pesquisadores da UFV, liderada pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Jorge Dergam, vem desenvolvendo pesquisas em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), buscando a conservação de peixes migratórios de água doce. Os estudos envolvem a caracterização genética das espécies e, associados a dados de comportamento e ecologia, orientam quanto às intervenções necessárias para garantir a preservação de populações saudáveis nas bacias hidrográficas estudadas.

Juntamente com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e Universidade Federal de Lavras (UFLA), a equipe da UFV participa de uma pesquisa na região de influência da Usina Hidrelétrica (UHE) de Três Marias. A partir de estudos sobre a dinâmica migratória e a genética populacional do curimatá-pacu (Prochilodus argenteus)  e curimatá-pioa (Prochilodus costatus), o projeto  visa à manutenção do estoque pesqueiro das populações nativas, determinando a necessidade ou não de um mecanismo de transposição de peixes na UHE.

Segundo o  professor Jorge Dergam, o consórcio de universidades foi formado para solucionar um evento de mortandade de peixes na região.  Pela caracterização cromossômica de populações de curimatás a montante e a jusante do reservatório, é possível estimar o grau de fluxo gênico histórico entre as populações. Ele explica que se a população do lado de cima do reservatório for geneticamente igual  à população do lado de baixo, a transposição será necessária, pois o fluxo gênico, importante mecanismo para manutenção da biodiversidade, pode estar comprometido.

A equipe da UFV também desenvolve um projeto com o apoio da Cemig e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), na bacia do Paraná. O Programa de Repovoamento de Peixes da Estação de Piscicultura de Volta Grande visa à melhoria das condições de sobrevivência dos peixes utilizados para estoque. A espécie estudada (Prochilodus lineatus), popularmente conhecida como curimatá, curimbatá e curimba, é endêmica da bacia do Paraná-Paraguai e do Prata, e representa uma grande biomassa. A pesquisa, coordenada pelo professor Jorge Dergam, vai avaliar a constituição genômica e os efeitos dos cromossomos B, característicos dessa espécie de curimbas.

O coordenador do projeto explica que cromossomos B são elementos genômicos extras, que ocorrem em muitos organismos. De acordo com o professor, existe uma polêmica no meio científico sobre os benefícios dos cromossomos B. Embora conhecidos há bastante tempo, não é sabido se são elementos parasitas dos organismos ou se conferem vantagens genéticas.

Assim, o objetivo do projeto é compreender se os cromossomos B ajudam ou atrapalham a sobrevivência dos peixes. Os pesquisadores vão identificar o genoma desses cromossomos e determinar se existem diferenças entre a expressão proteômica dos indivíduos que têm cromossomos B e daqueles que não têm. O  resultado desse estudo vai orientar a Cemig na seleção de matrizes utilizadas para fins de repovoamento.