Pesquisa desenvolve processo para degradação de sacolas plásticas

14 de maio de 2015


De tempos em tempos, alguma cidade brasileira convive com a polêmica proibição do uso de sacolas plásticas em supermercados. Quem elabora as leis proibitivas usa como principal argumento o longo período que uma sacola plástica leva para ser degradada no ambiente e a quantidade de lixo que está sendo deixada para as gerações futuras. Mas uma pesquisa realizada no Departamento de Microbiologia da UFV desenvolveu um processo para acelerar a degradação de plásticos biodegradáveis.

O processo, que está sendo patenteado pela Universidade, foi desenvolvido pelo pesquisador José Maria Rodrigues da Luz, durante seu doutorado no Programa de Pós-graduação em Microbiologia Agrícola. Ele conta que, para tornar mais leve a consciência de quem se preocupa com o meio ambiente, muitos supermercados adotaram as sacolas chamadas de D2W ou oxi-biodegradáveis ou, ainda, os plásticos verdes, usados normalmente para embalar frutas e verduras. As embalagens D2W são feitas com plástico originário de petróleo aditivado com íons metálicos de titânio. Já os plásticos verdes possuem em sua composição polímeros oriundos do bagaço de cana-de-açúcar. O problema é que nem mesmo as empresas produtoras conhecem bem a eficiência da degradação desses produtos.

Pesquisa
Nas embalagens, costuma estar escrito que as sacolas se decompõem em um período máximo de 18 meses, dependendo da exposição à luz solar. Mas a informação é vaga e, até agora, não havia nenhuma prova concreta. Por isso, o pesquisador começou o trabalho avaliando se as sacolas eram realmente biodegradáveis. ”O que sabemos é que este tipo de embalagem, quando exposta ao sol, nos lixões ou aterros, pode sofrer um processo de decomposição, mas nem sempre ele é completo”, explica José Maria. A pesquisa utilizou avaliações químicas, físicas e biológicas em equipamentos de microscopia e espectrofotometria e concluiu que a simples exposição ao sol não é suficiente para a degradação das sacolas ditas ecológicas.

Na segunda fase, os pesquisadores procuraram uma forma de acelerar o processo de degradação ou de torná-lo mais eficiente. Para isso, foi avaliado o potencial dos fungos da podridão branca, já conhecidos como bons degradadores de polímeros complexos. Deu certo, mas o processo ainda era muito lento. Faltava a umidade para propiciar o crescimento inicial do fungo. “Nós colocamos toalhas de papel em cima das sacolas porque o fungo, inicialmente, não ataca o plástico e sim o papel para produzir enzimas que degradam o plástico”, conta José Maria.

Segundo a orientadora da pesquisa, a professora Maria Catarina Megumi Kasuya, o resultado foi surpreendente. Sem a presença de luz solar, o plástico começou a ser degradado em apenas 45 dias. Na presença do sol, o processo é ainda mais rápido porque o calor causa alterações físico-químicas que flexibilizam o plástico e facilitam a proliferação do fungo. As sacolas que são tingidas com corantes também não ofereceram resistência ao processo de degradação. A boa notícia é que o plástico verde, feito com polímeros da cana-de-açúcar, desaparece ainda mais rapidamente do ambiente, após o tratamento com o fungo.

O que os pesquisadores não esperavam é que processo de degradação ainda formasse cogumelos comestíveis, ou seja, alimentos a partir dos plásticos degradados. “Nós sabemos que o cogumelo produzido é comestível, mas ainda precisamos analisar se alguns componentes tóxicos, oriundos da degradação do plástico ou das tintas, podem se acumular nos cogumelos”, alerta Catarina Kasuya. Esta é a próxima etapa da pesquisa na linha de processos e produtos microbiológicos, do Departamento de Microbiologia.

A UFV já fez o pedido de patente do processo de degradação das sacolas e da produção de cogumelos. “Queremos muito ver este processo sendo usado para dar um destino adequado a esses plásticos que hoje são um problema ambiental”, diz José Maria.

O estudo foi desenvolvido no doutorado de José Maria, orientado por Maria Catarina

O estudo foi desenvolvido no doutorado de José Maria, orientado por Maria Catarina Kasuya

Os resultados da pesquisa já foram publicados na revista PlosOne em dois artigos que podem ser conferidos nos links: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0069386;http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0107438 .

(Léa Medeiros)