28 de maio de 2015
A banana mais comercializada no mundo é a do tipo nanicão, que, diferentemente do que muitos pensam, está longe de ser a mais consumida nos países produtores da fruta. No Brasil, por exemplo, a maioria das mais de 100 mil toneladas de bananas exportadas por ano é nanicão, contudo, mais de 60% das consumidas no país são do tipo prata. Acontece que a nanicão é mais resistente ao processo de exportação do que os outros tipos da fruta. Esse fato chamou a atenção de produtores do norte de Minas Gerais, que buscaram ajuda da UFV para conseguir exportar o sabor da banana prata anã para a Europa.
A demanda por uma pesquisa aplicada que possibilitasse a entrada de bananas prata anã no mercado europeu, a princípio em Portugal, originou-se na Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte), de Janaúba (MG), cujo potencial de produção dessa variedade é grande, e veio parar nas mãos do professor do Departamento de Fitotecnia da UFV Luiz Carlos Chamhum Salomão. O primeiro contato foi intermediado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e aconteceu em 2011. Mas só a partir de 2012, depois do estabelecimento de um convênio, o pesquisador passou a coordenar uma série de experimentos que tinham como objetivo entregar um contêiner de bananas prata anã com qualidade para serem comercializadas em Portugal.
De acordo Luiz Carlos, o transporte de bananas do Brasil para a Europa acontece exclusivamente via navio e dura de 24 a 26 dias. A fruta precisa chegar verde ao seu destino para passar pelo processo de climatização – que é o amadurecimento forçado – e ser adquirida e consumida com qualidade. Atualmente, a banana nanicão domina o mercado internacional, porque é mais resistente a esse processo. Outros tipos da fruta possuem vidas pós-colheita curtas, como a prata anã, que amarelece e entra em processo de senescência – ou apodrecimento – rapidamente.
O professor conta que já havia realizado experimentos sobre conservação de bananas na UFV, mas as condições da pesquisa aplicada eram diferentes. Ele, então, convidou pesquisadores vinculados ao campus Janaúba da Universidade Estadual de Montes Claros para participar do trabalho, primeiramente, em pequena escala – com conjuntos de três bananas.
Foram trabalhados, principalmente, três aspectos na pós-colheita: ponto de colheita, para que a fruta pudesse suportar vários dias verde; temperatura de armazenamento e absorção do etileno – hormônio responsável por induzir o amadurecimento. “Foram séries de experimentos para chegarmos a um resultado”, destaca Luiz Carlos.
O ponto de colheita ideal da banana prata anã foi com 32 milímetros de diâmetro, uma fruta “mais magra”, que demora mais para amadurecer porque está menos propensa a reagir ao etileno. Já a temperatura de armazenamento foi de 14,5°C. O professor Luiz Carlos explica que, nos experimentos realizados em Viçosa, refrigeravam-se as bananas a 10°C durante 25 dias e, depois, elas amadureciam perfeitamente. “Quando tentamos colocar a banana de Janaúba na câmara fria, a 10°C, ela ficou com a casca escura. Isso mostrou que a região de cultivo é muito importante”. Quando a equipe chegou aos 14,5°C e a casca da prata anã não escureceu, passou-se para a próxima etapa: absorver o etileno produzido pela fruta. A substância que tem essa característica é o permanganato de potássio, que foi incluído por meio de sachês dentro das embalagens padronizadas para exportação, compostas por saco plástico hermético e caixa de papelão.
Depois que os experimentos iniciais geraram os resultados esperados, o momento foi de testar o processo elaborado em escala comercial. Isso aconteceu em agosto de 2014, quando a equipe envolvida na pesquisa realizou um experimento com 240 caixas de 20 quilos de bananas prata anã (quase cinco toneladas no total). Elas ficaram armazenadas em um contêiner refrigerado durante 25 dias e, quando foram abertas, o resultado não foi animador: cerca de 25% das frutas estavam maduras. Um agravante para a situação era a falta de tempo para novas experimentações. A saída foi realizar um último teste, definitivo, pois o contêiner deveria ser enviado para a Europa.
Nesta última tentativa, o plástico que envolvia as bananas foi substituído por um mais espesso e hermético, que garantiria uma troca de gases menor entre o interior e o exterior da embalagem e a funcionalidade do absorvedor de etileno. E, assim, no dia 10 de outubro, as novas caixas de banana prata anã foram enviadas para Portugal.
No dia 3 de novembro, o contêiner chegou de caminhão a Lisboa, depois de ser desembarcado no porto de Roterdã, na Holanda. Quando foi aberto, uma surpresa: apenas três conjuntos da fruta estavam maduros. “Foi um sucesso!”, disse o professor Luiz Carlos, que considerou a experiência um desafio para a sua carreira profissional. “Queremos contribuir com algo que tenha certo impacto, que dê vantagem competitiva para o Brasil. Na área de pesquisas com bananas, com a qual trabalho há 30 anos, foi bastante satisfatório e enriquecedor”.
E, apesar de ter alcançado o objetivo inicial, Luiz Carlos afirma que a pesquisa ainda não foi encerrada. A partir de agora, a equipe realizará avaliações econômicas mais detalhadas, com a finalidade de baratear a exportação da prata anã. “Nossa ideia é tentar diminuir a concentração do absorvedor de etileno, a temperatura de armazenamento… Ajustes finos para otimizar”, ressalta o coordenador.
(Izabel Morais)