Destaque em periódico internacional, pesquisa da UFV investiga efeito de quimioterápico em DNA

14 de novembro de 2017


Um dos maiores desafios nos tratamentos de diversos tipos de câncer é entender a ação dos fármacos quimioterápicos nas células, particularmente no DNA. Mas os obstáculos são muitos: reproduzir in vitro, ou pelo menos simular de forma eficiente, o ambiente intracelular, não é fácil. Além disso, as dimensões nanoscópicas das moléculas são outro complicador, requerendo tecnologia de última geração que permita manipular estruturas milhares de vezes menores que o diâmetro de um fio de cabelo, por exemplo. O único laboratório do país onde o equipamento necessário é utilizado para essa finalidade fica na UFV – e um estudo desenvolvido ali acaba de se tornar destaque num em um respeitado período científico internacional.

O artigo Doxorubicinhinders DNA condensationpromotedbytheproteinbovineserumalbumin (BSA) está na capa da mais recente edição da conceituada revista Biopolymers (Wiley). O trabalho tem como autores os estudantes de doutorado Carlos Henrique Moreira Lima e Hauster Maximiler Campos de Paula, além dos professores Luis Henrique Mendes da Silva, do Departamento de Química, e Márcio Santos Rocha (à esq.), do Departamento de Física. O objetivo foi criar condições semelhantes aos do interior de uma célula para que se possa investigar in vitro, de modo apropriado, os efeitos da interação entre os medicamentos e o DNA.

A solução encontrada pelos pesquisadores foi o uso da proteína albumina do soro bovino (BSA), que, se usada de maneira apropriada, contribui para as análises por dois motivos: simula a grande quantidade de macromoléculas ao redor do DNA, tornando a amostra mais parecida com o espaço intracelular; e reproduz o estado condensado do DNA encontrado em células procarióticas. O fármaco utilizado foi a doxorrubicina, ministrada em variados tipos de câncer.

Para examinarem como o fármaco interagiu com o DNA, os pesquisadores empregaram uma técnica ainda bem pouco difundida no Brasil: a pinça ótica. O sofisticado equipamento inclui vários tipos de espelhos, lentes, microscópios e raio laser. Com ele, foi possível manipular partículas minúsculas – para se ter uma ideia, o DNA é manipulado com precisão de um nanômetro, o que corresponde a algo em torno de 90 mil vezes menos que o diâmetro médio de um fio de cabelo humano. “Há outros laboratórios no Brasil com essa tecnologia, mas somente o Laboratório de Física Biológica da UFV trabalha com a manipulação de DNA na atualidade”, explica o professor Márcio, um dos orientadores do Grupo de Física Biológica.

Os resultados obtidos foram considerados bastante satisfatórios, já que a BSA melhorou muito as condições em que os experimentos de interação acontecem. Para um futuro próximo, a intenção é simular in vitro o ambiente de células eucarióticas, como as dos seres humanos, que são bem mais complexas. “À medida que vamos entendendo esse processo, teremos condições de aperfeiçoá-lo, o que mais adiante poderá levar a tratamentos mais eficientes do câncer”, observa o professor Márcio.

Marcel Angelo
Fotos: Daniel Sotto Maior
Divulgação Institucional

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