Projetos aproximam ciência da sociedade

17 de agosto de 2017


Apesar de a divulgação científica – ou popularização da ciência – ainda não ser uma prática unânime entre os pesquisadores das universidades, tem sido crescente a percepção de que o conhecimento deve ir além da academia e alcançar a sociedade. As justificativas vão desde a necessidade de se prestar contas do investimento feito nas pesquisas, já que a maioria é realizada com recurso público, até a desmitificação da própria ciência, fazendo as pessoas entenderem que ela está mais presente no dia a dia do que imaginam. No contexto de cortes no orçamento, a divulgação científica também pode significar mais aliados para a principal causa da ciência brasileira atualmente: a sobrevivência.

Todas essas razões, que integram um rol extenso de justificativas para que o público não especializado tenha acesso à informação científica, estão presentes, de certa forma, há quase 20 anos na vida do professor Rubens Pazza, que, desde 2010, atua no curso de Ciências Biológicas da UFV-Rio Paranaíba (CRP). Ali, ele coordena o Semeando Ciência, um programa de extensão universitária que integra as atividades do Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva. Por meio desse programa, são desenvolvidos diferentes projetos de divulgação da ciência, especialmente na área biológica.

Com a ajuda de poucos bolsistas (um ou dois) e de voluntários, o que inclui colaboradores externos, o professor divide com a também professora do CRP Karine Frehner Kavalco a coordenação do programa de rádio Rock com Ciência, do jornal impresso Folha Biológica e de websites de biologia em geral e de evolução, como o DNA Cético. Eles também produzem páginas e perfis nas redes sociais Twitter e Facebook. No Rock com Ciência, semanalmente os estudantes gravam podcastscom temas científicos variados. Um deles, por exemplo, foi sobre realidade virtual. Para chamar os ouvintes, um questionamento: “O que vem em sua mente quando o assunto é realidade virtual? Normalmente, esse conceito é associado às tecnologias de alta complexidade, mas a realidade virtual é um campo bem mais amplo, e suas implicações são muito importantes na sociedade”. Já no jornal, a ênfase é dada às Ciências Biológicas, sobre as quais ele faz circular, trimestralmente, informações para cerca de 200 escolas públicas da região do Alto Paranaíba, onde está localizado o campus da UFV.

Por meio desses canais, o professor procura mostrar a seus alunos a importância da divulgação científica e engajá-los nesta prática. Na medida do possível, ele a associa ao conteúdo das disciplinas que ministra. Pazza acredita que fazer divulgação científica na graduação é uma maneira de os pesquisadores terem familiaridade com o assunto e uma prática diferenciada no futuro. Mas por que isto é importante? O professor responde: “como a gente deseja que as pessoas apoiem o cientista? Como vamos pedir apoio e esperar por ele se consideram o cientista como algo inalcançável? Ou ainda: como queremos que tenham opinião sobre assuntos que dizem respeito à vida delas, ao dia a dia, sem que conheçam a ciência?” Na avaliação de Rubens Pazza, “as pessoas são enganadas o tempo inteiro por falta de conhecimento científico. Elas precisam saber o que o cientista faz”.

A irreversibilidade da fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ao das Comunicações, ao contrário do que aconteceu com o Ministério da Cultura, é, na opinião do professor, um exemplo concreto desse distanciamento entre sociedade e cientista. O fato de os artistas terem conseguido reverter a extinção do Ministério da Cultura, e os cientistas não obterem o mesmo êxito com o da Ciência, deve servir como reflexão, segundo Pazza. “Por que isso aconteceu? Será que não precisamos aparecer mais”, questiona. “A população não terá empatia por algo que não conhece”.

Pazza admite a dificuldade em fazer divulgação científica. Além de algumas iniciativas, como programas de rádio, requererem o trabalho de profissionais de outras áreas, não há uma valorização pelas próprias agências de fomento. Ele lembra que os programas de pós-graduação pontuam de acordo com o sistema Periódicos Qualis Capes. E comenta: “o que mede o cientista são os artigos que publica e, principalmente, as citações que tem. É a moeda de troca; somos avaliados por isso. Nenhum formulário questiona o que se faz em divulgação científica, mas quais são as nossas publicações mais importantes. O foco acaba sendo naquilo que move o pesquisador”.

A divulgação científica, portanto, na avaliação do professor, é “uma questão motivacional”, que ele vai tentando incentivar nos seus alunos, inclusive, em trabalhos com crianças nas escolas de Rio Paranaíba. Para Pazza, essa experiência permite uma reflexão sobre o que as pessoas querem da ciência, qual o papel do pesquisador e até onde se pode chegar. Trabalhar com crianças é um possível caminho para que se crie uma cultura de divulgação científica na opinião do professor. O seu desejo por isso é tão grande que, no semestre passado, lecionou uma disciplina específica sobre divulgação científica. Na bibliografia, dentre vários autores, havia um que desde cedo o inspirou: o astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934-1996), que ele considera o maior divulgador de ciência.

Mais divulgação
Vale destacar que, no primeiro semestre de 2017, a Diretoria de Comunicação Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, promoveu uma iniciativa inédita na UFV com a realização de seminários sobre divulgação científica. Foram 23 palestras ministradas pelas jornalistas Léa Medeiros e Adriana Passos em programas de pós-graduação do campus Viçosa. Os seminários terão continuidade neste segundo semestre e serão estendidos aos campi de Florestal e Rio Paranaíba.

Adriana Passos
Divulgação Institucional

Na produção e gravação do Rock com Ciência, o professor Rubens (esq.) tem apoio de bolsistas

Na produção e gravação do Rock com Ciência, o professor Rubens (esq.) tem apoio de bolsistas