29 de maio de 2017
O ex-estudante da UFV Eliseu Roberto de Andrade Alves é o mais novo Doutor Honoris Causa da Universidade. O título máximo concedido pela instituição a quem realiza contribuições significativas ao país foi entregue dia 19 de maio, no Salão Nobre do campus Viçosa, pela reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares. Parentes, amigos e representantes dos conselhos Universitário e de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFV participaram da sessão solene, acompanhada de perto também por atuais e ex-professores do Departamento de Economia Rural, cujo colegiado indicou o nome de Eliseu Alves para a homenagem, aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário.
O homenageado é engenheiro agrônomo, formado pela UFV em 1954, com mestrado e doutorado em Economia Agrícola pela Purdue University (Estados Unidos), da qual também recebeu o título de Doutor Honoris Causa, em 1985. Eliseu Alves contribuiu para consolidar o serviço de extensão rural em Minas Gerais e no Brasil e foi participante ativo do grupo que reformulou o setor de pesquisa do então Ministério da Agricultura, na década de 1970, culminando na criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ali, atuou como diretor nos seus seis primeiros anos e como presidente de 1979 a 1985.
Toda a trajetória, que inclui ainda a publicação de artigos e livros, foi apresentada aos participantes no panegírico feito pelo pesquisador – e também engenheiro agrônomo pela UFV – Antonio de Padua Nacif, atual gerente executivo do Polo de Excelência em Florestas, vinculado à Universidade e à Secretaria de Ciência e Tecnologia e Ensino de Minas Gerais. Após a leitura do currículo de 62 anos de atuação profissional, o homenageado ressaltou: “todo o trabalho relatado deve-se muito à multidão que trabalhou junto comigo”. Ele contou que uma das coisas que aprendeu desde cedo foi misturar a sua individualidade na coletividade. “Essa mistura me ajudou muito a realizar aquilo que Deus tinha como missão para mim na Terra”. Outro ponto ressaltado pelo mais novo Doutor Honoris Causa da UFV para justificar seu extenso currículo foi o fato de ter vivido em uma época “muito propícia à criatividade”.
Agricultura e desafios
Em seu discurso de agradecimento, Eliseu Alves fez uma breve análise da agricultura brasileira. Lembrou que um problema sério existente no Brasil são as imperfeições de mercado. “A pequena produção vende seu produto por um preço muito menor e compra os insumos por um preço muito elevado. Em função disso, temos uma dicotomia na agricultura brasileira. A grande produção pode adotar tecnologia porque venceu, pelos seus métodos, as imperfeições de mercado. A pequena não tem como adotar tecnologia, portanto, não tem como sair da pobreza. Este é o grande dilema da agricultura brasileira”.
Para quem ajudou a construir a história da extensão rural, a avaliação que fica é a de que o conhecimento se difundiu muito bem para o agronegócio diferentemente do que aconteceu com a grande maioria dos agricultores. A consequência está no fato de o país já ter uma agricultura com muita pouca gente residente no campo: “é uma agricultura comandada pelas cidades polos brasileiras e pelo exterior”. Esta situação é bastante diferente da época em que começou sua vida como extensionista, quando a liderança de toda a agricultura era rural, do café com leite de Minas Gerais e São Paulo, que comandava o Brasil política e administrativamente. “Essa liderança hoje saiu do meio rural completamente e se tornou urbana, com métodos e locais de decisão inteiramente urbanos”.
O agora Doutor Honoris Causa disse não temer desafios que se é capaz de numerar. “Não temo a concentração da produção brasileira, que é um grande desafio para a nossa sociedade; não temo o aquecimento global, a falta de água, a competição internacional. A história tem nos ensinado que todos os desafios enumerados e conhecidos foram capazes de ser transportados pela inteligência humana, pela pesquisa, pela dedicação e pelos nossos agricultores. O problema são os desafios ainda não conhecidos”. Consciente da importância das universidades, ele considera que cabe a elas um desafio a mais: “o de tentar descobrir as coisas que ainda não aconteceram. O que está conhecido nós já estamos trabalhando na solução. O problema é o desconhecido que está relacionado, por exemplo, ao fato de termos hoje uma sociedade com 48 mil estabelecimentos comandando toda a produção brasileira. “É isso que queremos?”, questionou. “Nós vamos ter um campo sem cultura rural, que já está morrendo. Um país completamente urbanizado, com agricultura poderosíssima, exportando para o mundo inteiro, mas sem gente para alegrar o ambiente rural. Esta é a luta que temos que enfrentar”.
Eliseu Alves também chamou a atenção para o fato de que universidades, Embrapa e outras instituições que militam na área do conhecimento não podem ter o seu fluxo de recursos interrompido. Bastante aplaudido, ele recomendou que “temos que batalhar junto às autoridades no sentido de mostrar que é um erro dramático cortar recursos de pesquisas de instituições do Brasil. Temos que batalhar com coração, com emoção, mas, sobretudo, com os números. Temos que agir no sentido de transformar em política pública todo o conhecimento que estamos gerando e que é relevante para a sociedade brasileira”.
Para finalizar, lembrou que foi “uma honra enorme receber o título da Universidade Federal de Viçosa. “Eu, minha família e meus amigos estamos muito felizes”. Assumindo sua “fé religiosa muito forte e uma família fantástica”, Eliseu Alves afirmou que nada do que aconteceu com ele foi sem a inspiração de Deus. “Eu não sou capaz de explicar muitas das ideias que tive e muito menos porque fui chamado a operacionalizá-las, mas Deus me ajudou durante a minha vida toda”.
Na UFV
A reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares, que entregou ao homenageado a borla, o epitógio e o diploma de Honoris Causa, destacou o momento como ímpar por revelar a função da Universidade, que é formar os alunos e torná-los melhores cidadãos e cidadãs. Na opinião dela, Eliseu Alves é um exemplo, pois “foi uma pessoa que adquiriu o conhecimento na UFV e saiu Brasil afora para transformar e beneficiar especialmente aqueles que não tinham condição de buscar esse conhecimento em outras instâncias”. Ao ouvir histórias como a de Eliseu Alves, a reitora se disse orgulhosa e com a certeza de que a UFV trilha o caminho certo.
Vale destacar que Eliseu Alves deixou sua assinatura registrada no Livro de Ouro da UFV e ministrou, na tarde de sexta-feira, o seminário Hipóteses fascinantes sobre a agricultura brasileira, no auditório do Departamento de Economia Rural. A entrega do título no Salão Nobre foi acompanhada pelo vice-reitor João Carlos Cardoso Galvão, que ocupou a mesa oficial juntamente com diretores dos centros de ciências Rubens Alves de Oliveira (CCA), Maria das Graças Soares Floresta (CCH), Miriam Teresinha dos Santos (representando o CCB) e Rogério Fuscaldi Lelis (representando o CCE), e o secretário de Órgãos Colegiados, José Henrique de Oliveira. Aos diretores de centros coube a condução do agraciado até a mesa. Na plateia, dentre os vários convidados estava a diretora de Administração e Finanças da Embrapa e presidente em exercício, Vânia Beatriz Rodrigues Castiglioni. Confira fotografias do evento no link https://goo.gl/photos/Vs1kjp8YnabNK7qCA
Adriana Passos – Fotos: Reinaldo Pacheco
Divulgação Institucional