4 de fevereiro de 2015
por Elaine Nascimento
Diferente do que se pensava antigamente, planta daninha não é um mal a ser combatido, mas um elemento a ser manejado e integrado a outros fatores na agricultura. Com o manejo integrado de plantas daninhas é possível “reduzir o uso de agrotóxicos e minimizar os riscos de impacto ambiental, no que se referem à contaminação do solo, da água e dos alimentos pelos herbicidas”. Quem afirma é o professor do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da UFV, Antônio Alberto da Silva, que lidera o grupo de pesquisa Manejo Integrado de Plantas Daninhas, envolvendo pesquisadores dos departamentos de Fitotecnia, Química e Microbiologia da UFV.
Laboratório de Manejo Integrado de Plantas Daninhas, no Departamento de Fitotecnia da UFV.
De acordo com o professor Antônio Alberto, os estudos “visam conhecer as interações dos herbicidas com o ambiente quanto à sorção, dessorção, persistência e lixiviação desses agrotóxicos em diferentes solos do Brasil, bem como conhecer os impactos desses compostos sobre a associação de microrganismos e plantas daninhas na degradação de poluentes do solo”.
Conhecendo os atributos do solo e o clima da região, é possível informar ao produtor se o herbicida que ele pretende aplicar é seguro do ponto de vista agronômico e ambiental. Segundo o pesquisador da UFV, “em solos contaminados com herbicidas, é possível recomendar o cultivo de plantas com alta capacidade de se associar a microrganismos que aceleram a degradação desses agrotóxicos no ambiente”.
O pesquisador destaca que no Brasil é comum a utilização de agrotóxicos que apresentam longa persistência no ambiente, em diversas culturas, áreas de reflorestamento e pastagens. Assim, “é de fundamental importância a aplicação adequada desses compostos para garantir a qualidade final dos produtos colhidos e os recursos naturais que sustentam a produção, especialmente, a biodiversidade, o solo e a água”.
Para se ter ideia dos benefícios do manejo integrado de plantas daninhas na agricultura, o professor Antônio Alberto cita o exemplo de uma lavoura de café na região da Zona da Mata mineira. Segundo o especialista, fazendo o manejo das plantas daninhas na lavoura, a cultura passou a receber apenas uma aplicação de herbicida por ano. Antes, eram feitas mais de sete aplicações no mesmo período.
Apesar dos benefícios, ele destaca que o manejo de plantas daninhas enfrenta resistência por parte dos produtores. Ainda persiste aquela visão do passado de que toda planta que não seja a cultura de interesse deve ser eliminada da lavoura. E para isso, os agricultores lançam mão dos herbicidas. Com um apelo imediato, eles querem um produto que seja eficiente, de baixo custo e fácil de aplicar. Esse cenário aliado à pressão das empresas que atuam no setor impulsiona o uso de agrotóxicos.
Mas o professor Antônio Alberto acredita que uma mudança de paradigma vem ocorrendo aos poucos. O manejo integrado vem ganhando espaço devido às suas vantagens. De acordo com o pesquisador, a permanência de plantas daninhas na lavoura de café sob manejo adequado, forma uma cobertura verde no período chuvoso, que possibilita maior infiltração da água no solo, evitando-se a erosão. No início da época da seca, as plantas daninhas são mortas, formando uma camada de palha na superfície, que irá contribuir para a manutenção da umidade e temperatura do solo. Além disso, os gastos do produtor com compostos químicos e os impactos ambientais são reduzidos, e ocorre a ciclagem dos nutrientes, que voltam para o solo, mantendo a sua fertilidade. Tudo isso vem colaborar para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas.