25 de novembro de 2014
A termografia não é uma tecnologia recente, mas a sua aplicação no esporte é inovadora. Ela vem sendo utilizada como forma de detecção precoce de contusões. No Cruzeiro Esporte Clube, houve uma redução de mais de 80% na ocorrência de lesões entre os jogadores.
por Elaine Nascimento
Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFV, desde 2008, vêm se dedicando a uma nova linha de pesquisa: a termografia aplicada à medicina do esporte. A termografia contribui para a integridade física dos atletas e vem ganhando os centros de treinamento dos clubes de futebol no Brasil. Os times do Cruzeiro, Botafogo e Boa Esporte já aderiram à tecnologia. Utilizando imagens termográficas é possível identificar o local exato onde poderia se iniciar um processo inflamatório e, assim, prevenir uma lesão muscular ou articular de um atleta.
Na termografia, uma câmera infravermelha capta ondas de calor que o corpo emite e um software quantifica essa temperatura. A imagem termográfica mostra cores diferentes baseadas na temperatura registrada. De acordo com o professor João Carlos Bouzas Marins, que lidera as pesquisas sobre termografia aplicada à medicina do esporte na UFV, “os lados direito e esquerdo do nosso corpo, em condições normais, têm a mesma temperatura. Quando ocorre uma diferença de temperatura entre os dois lados indica algum problema, como, por exemplo, um quadro inflamatório, tanto em nível muscular quanto articular. Se aceita uma diferença de temperatura entre os lados do corpo de até 0,5 ºC. Quando ultrapassa esse valor é sinal que tem um desequilíbrio”.
Imagem termográfica indicando diferenças de temperatura entre o joelho direito e o esquerdo de um atleta.
A tecnologia que já era conhecida das áreas militar, construção civil e medicina, chegou ao meio esportivo nos anos 2000, em países da Europa. No Brasil, o primeiro time a adotar a termografia foi o Botafogo, clube onde o professor João Carlos Bouzas conheceu a técnica. Em 2012, o pesquisador foi para a Espanha fazer pós-doutorado na área, no Instituto Nacional de Educación Física, da Universidad Politécnica de Madrid.
De acordo com o especialista da UFV, existem outras formas de mensurar a temperatura corporal. Contudo, “nenhuma outra é tão vantajosa. A termografia é versátil, oferece perspectiva da área do corpo toda ou fotos de regiões específicas. Não é uma técnica invasiva. É rápida, em 10 minutos se tiram fotos termográficas. Não oferece riscos, pois não emite radiação. Ela apenas capta radiação”. Acrescendo-se que para operar o equipamento não é necessária formação específica. Com treinamento, qualquer integrante da comissão técnica estará apto a utilizar. A única exigência é que as fotos sejam feitas numa sala que apresente condições adequadas para não interferir no resultado das imagens.
Um dos poucos clubes brasileiros a adotarem a termografia até o momento, o Cruzeiro vem colhendo bons resultados, que se refletem no ótimo desempenho do time nas últimas temporadas. De acordo com o professor João Carlos, o Cruzeiro começou a utilizar a termografia como teste de rotina, em janeiro de 2013, e desde então houve uma redução de mais de 80% nas lesões. “Tendo em vista os altos salários que os jogadores recebem, isso significa que o atleta não vai ficar parado por muito tempo por causa de uma lesão”, destaca o professor da UFV sobre o custo-benefício de se investir na termografia. Segundo o pesquisador, um equipamento de boa qualidade custa em torno de 60 mil reais e é um investimento único, que só proporciona retorno e benefícios ao clube.