23 de outubro de 2014
Utilizando dispositivos nanomagnéticos, poderiam ser desenvolvidos, por exemplo, aparelhos com baterias mais duráveis e memórias de armazenamento ampliadas.
por Elaine Nascimento
Celulares e computadores mais potentes e menores do que os aparelhos atuais. A melhoria desses produtos seria uma das possíveis aplicações da magnetricidade, uma alternativa ao uso da eletricidade. Dispositivos desenvolvidos a partir do nanomagnetismo têm potencial para maior armazenamento e transporte de informação. Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Física Aplicada da UFV foram responsáveis por demonstrar pela primeira vez que é possível criar monopolos em sistemas magnéticos nanoestruturados – são os chamados gelos de spin artificiais. Nesses sistemas, é como se os polos positivo e negativo dos ímãs se separassem. O movimento das cargas magnéticas isoladas pode gerar uma corrente denominada magnetricidade.
O físico Clodoaldo Irineu Levartoski de Araújo lidera as pesquisas experimentais sobre nanomagnetismo na UFV.
De acordo com o físico Clodoaldo Irineu Levartoski de Araújo, que lidera as pesquisas experimentais na UFV, a equipe trabalha com magnetismo numa escala nano, o que significa dizer que é numa dimensão muito reduzida, por isso fala-se de dispositivos nanométricos. “Quando a gente diminui o tamanho das coisas, conseguimos controlar melhor as propriedades magnéticas” – explica.
Utilizando dispositivos nanométricos, poderiam ser desenvolvidos, por exemplo, aparelhos com baterias mais duráveis e memórias de armazenamento ampliadas. Segundo o pesquisador da UFV, o nanomagnetismo é uma tecnologia promissora porque oferece maior grau de liberdade e maior densidade de informação, pode melhorar a velocidade dos aparelhos e tem gasto de energia menor, uma vez que esses dispositivos não aquecem. O físico acredita, inclusive, que essa tecnologia será mais barata que as utilizadas atualmente, como silício e carga elétrica, porque exige poucas etapas para se chegar a um dispositivo nanométrico.
Para obter um dispositivo nanomagnético, os pesquisadores produzem milhares de ímãs muito pequenos, invisíveis a olho nu, e os organizam em arranjos sobre uma superfície. Dessa geometria controlada, surge uma partícula emergente que se comporta como um ímã de único polo. De acordo com o pesquisador, “até 2010, esses polos emergentes nunca haviam sido observados experimentalmente. Estavam previstos apenas na teoria. O movimento dos polos isolados gerando uma corrente magnética foi feito pela primeira vez na UFV”.
A geometria empregada nesse sistema é denominada Gelo de Spin, por apresentar algumas semelhanças com a configuração do gelo da água. Utilizando um microscópio especial, os pesquisadores conseguem visualizar os gelos de spin e conseguem controlar a corrente de monopolos magnéticos. Segundo o professor Clodoaldo, o grupo de pesquisa da UFV cria artificialmente os monopolos magnéticos e os faz movimentar, gerando corrente magnetrônica ou magnetricidade. Ele afirma que é possível fazer ilhas que geram monopolos como desejar: “você pode manipular e mudar os desenhos para obter melhores resultados”.
As etapas de análise e caracterização dos dispositivos nanomagnéticos são desenvolvidas na UFV. Já a fabricação das amostras de nanoestruturas, a equipe da UFV realiza no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), localizado no Rio de Janeiro, porque lá tem a máquina de nanolitografia necessária. Hoje, apenas o CBPF e a Unicamp dispõem desse equipamento no Brasil. O professor Clodoaldo informa que o objetivo é que, futuramente, a UFV também adquira uma máquina de nanolitografia. Isso permitirá à UFV, além de fabricar as próprias amostras, também oferecer treinamento aos pesquisadores para que operem o equipamento. Atualmente, o professor Clodoaldo é um dos poucos pesquisadores aptos a operá-lo no Brasil. Ele assegura: “a gente tem interesse em desenvolver novas tecnologias e também formar recursos humanos”.
O físico explica que as nanoestruturas são necessárias porque o foco é a aplicação tecnológica. A pesquisa encontra-se em fase inicial, mas já comprovou que é possível gerar carga magnética através de nanoestruturas. O pesquisador da UFV destaca: “A Física mostra a factibilidade das coisas e os engenheiros fazem a adaptação ao mercado”. E pelo visto, possibilidades para aplicação da nova tecnologia é o que não vai faltar, já que os dispositivos nanométricos vêm atender à necessidade de aparelhos cada vez mais potentes e com tamanho menor.