25 de agosto de 2014
por Elaine Nascimento
Uma série de medidas afetam as relações comerciais entre os países. Muitas delas atuam como barreiras que vão desde taxas cobradas sobre o valor do produto até medidas não tarifárias que visam proteger internamente os mercados. Essas medidas impactam diretamente os fluxos de produtos no comércio internacional. Desde 1998, o professor do Programa de Pós-graduação em Economia da UFV, Orlando Monteiro da Silva, acompanha a evolução das barreiras não tarifárias e analisa como essas medidas afetam a importação, a exportação e os preços dos produtos comercializados entre os países. Principalmente, analisa o efeito que medidas não tarifárias têm sobre as exportações brasileiras.
O pesquisador explica que com as negociações multilaterais, os países reduziram as tarifas cobradas sobre as importações, mas passaram a exigir padrões técnicos, tecnológicos, sanitários e fitossanitários mais rigorosos, aos diversos produtos importados – são as chamadas barreiras não tarifárias. “Muitas dessas medidas são benéficas porque ao colocar exigências técnicas e/ou sanitárias você cria um atributo adicional para o produto, dando tranquilidade ao consumidor”. O problema surge quando as medidas não tarifárias se tornam obstáculos ao comércio. Alguns países impõem condições para importação tão exageradas que acabam inibindo o comércio internacional. “Exigências são iguais a custo e se o custo de adequação às exigências for muito alto torna inviável a exportação. Alguns países usam essas exigências em excesso com o objetivo explícito de barrar as importações e proteger o mercado interno”.
De acordo com o professor Orlando, o Brasil, como grande produtor e exportador de produtos agrícolas, frequentemente se depara com exigências técnicas e sanitárias que dificultam suas exportações. “Alguns mercados são extremamente exigentes. Por exemplo, o Brasil não exporta carne bovina in natura para os Estados Unidos por não obedecer às condições sanitárias estabelecidas por esse país”.
O pesquisador avalia que no geral o Brasil tem um mercado interno desenvolvido e atende de maneira satisfatória aos padrões internacionais com relação às medidas sanitárias e fitossanitárias. Mas alerta: “Se o objetivo é manter e ampliar os mercados para os nossos produtos, temos que fazer uma avaliação constante das condições e exigências externas, com um corpo técnico treinado, e proteger nossas fronteiras da entrada de doenças e pragas que existem lá fora”. Ele destaca que o Brasil tem se preocupado com essa questão, inclusive, a primeira turma do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal, oferecido pela UFV, foi formada exclusivamente por profissionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O MAPA é um dos órgãos governamentais brasileiros responsáveis por elaborar os padrões sanitários e fitossanitários internos e acompanhar as exigências internacionais. O MAPA estabelece padrões relacionados à produção agrícola, enquanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cuida de questões relacionadas à sanidade humana e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) é responsável por estabelecer normas técnicas.
Além da Economia, as pesquisas sobre o impacto de medidas não tarifárias sobre os fluxos de comércio internacional desenvolvidas na UFV envolvem outras áreas de interesse. O professor Orlando destaca a parceria com o Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal e os programas de pós-graduação em Administração e Economia Rural, que já formaram diversos profissionais nessa área. Apesar de o Brasil ser o foco principal, os estudos abrangem vários outros países. O universo pesquisado compreende os 160 membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), que correspondem a mais de 90% do comércio mundial.