22 de julho de 2014
por Elaine Nascimento
No artigo “Intestinal Microbiota and Probiotics in Celiac Disease”, publicado na última edição da revista da Sociedade Americana de Microbiologia, Clinical Microbiology Reviews, Fator de Impacto 17, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição da UFV discutem o uso de probióticos como novo tratamento para doença celíaca.
De acordo com o estudo realizado pelos pós-graduandos, Luís Fernando de Sousa Moraes e Tatiana Fiche de Sales Teixeira, com orientação da professora Maria do Carmo Gouveia Peluzio e participação do professor visitante da Universidade de Turku, na Finlândia, Lukasz Marcin Grzeskowiak, existe a hipótese de que a microbiota intestinal alterada esteja de alguma forma envolvida na evolução da doença celíaca. Assim, os probióticos surgem como um adjuvante interessante no controle dietético da doença. Vale destacar que a microbiota intestinal é popularmente conhecida como flora intestinal.
A doença celíaca é uma patologia autoimune que afeta o intestino delgado de pessoas geneticamente predispostas. A doença é provocada pela ingestão de alimentos que contêm glúten, uma substância composta de proteínas, encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e seus derivados. Indivíduos portadores da doença sofrem atrofia das vilosidades da mucosa do intestino delgado, o que dificulta a absorção pelo organismo de nutrientes como vitaminas, sais minerais e água.
Até o momento, aos portadores da doença só resta retirar alimentos que contêm glúten do seu cardápio. Contudo, agora, surge uma nova possibilidade de tratamento para essas pessoas: o uso de probióticos. Probióticos são microrganismos vivos tais como bactérias ou leveduras. Eles podem ser encontrados em alimentos industrializados presentes no mercado, como leites fermentados e iogurtes, ou podem ser encontrados na forma de pó ou cápsulas. Os probióticos conferem benefícios à saúde, auxiliando no equilíbrio da microbiota intestinal.
Dentre os benefícios dos probióticos estão o controle de colesterol e de diarreias e a redução do risco de câncer. No que se refere especificamente à doença celíaca, os probióticos podem auxiliar no tratamento, pois a doença pode provocar alteração na microbiota e aumento da permeabilidade intestinal.
No artigo publicado na Clinical Microbiology Reviews, os autores discutem as características da microbiota intestinal de indivíduos portadores da doença celíaca. Consta no artigo, revisão de pesquisas onde foram demonstrados que os níveis de algumas bactérias benéficas são reduzidos em pacientes com doença celíaca. Comparações feitas entre crianças com a doença e crianças saudáveis demonstraram que a microbiota intestinal delas são diferentes. As portadoras de doença celíaca têm menos lactobacilos e bifidobactérias. Também foram identificados probióticos específicos digerindo ou alterando polipeptídeos de glúten. Assim, por serem ricos em bactérias, alimentos probióticos podem beneficiar a saúde dos portadores da doença celíaca.
No entanto, ainda não existe consenso sobre as mudanças na composição da microbiota intestinal dos pacientes portadores da doença, principalmente em nível de espécie. Os autores indicam a necessidade de estudos futuros que contribuam para a concepção comum de orientações e diretrizes para o tratamento da doença celíaca e para avançar o conhecimento sobre a importância da microbiota na prevenção da doença.
Equipe do Laboratório de Bioquímica Nutricional da UFV, coordenada pela professora Maria do Carmo Gouveia Peluzio, e o professor visitante da Universidade de Turku, na Finlândia, Lukasz Marcin Grzeskowiak.